Camila Lopes Costa nasceu prematuramente, após oito meses de gestação, no dia 11 de maio de 1978. Logo que veio ao mundo, os médicos detectaram que ela havia nascido com mielomeningocele. Naquela época, não existia tecnologia o suficiente para diagnosticar uma deficiência com antecedência.
Por conta disso, no momento do seu nascimento, os médicos primeiramente avisaram o Sr. Jair, o seu papai, para depois informar a Dna. Carmelina, sua mamãe, sobre a condição de Camila e os cuidados e procedimentos que deveriam ser tomados.
“Quando meu pai soube do meu quadro, ele chorou muito. Não pelo fato de eu ter nascido com deficiência, mas pela insegurança se eu teria condições de sobreviver, além da mielo, eu também apresentei outras complicações como hidrocefalia, por isso, meus pais estavam com muito medo do que poderia acontecer”, relembra Camila.
Ainda no hospital, naquele momento de tanta incerteza e medo, Sr. Jair e Dna. Carmelina receberam diversas orientações e palavras de apoio. Eles foram atendidos na época pelo Dr. Celso, que falou da necessidade do tratamento de fisioterapia.
A partir daí ela foi encaminhada ao Dr. Reginaldo que indicou a Casa da Criança Paralítica de Campinas para dar início ao seu tratamento de reabilitação.
A pequena Camila chegou à CCP com apenas um aninho. Ela conta, emocionadamente, que seus olhinhos cheios de vida e alegria eram o que mais dava força para a seus pais.
“Minha mãe diz que foi o meu olhar que deu muita força para ela continuar e seguir em frente sempre. Quando ela via os meus olhos, toda a incerteza e insegurança dela ficavam por terra e a esperança e felicidade pela minha vida vinham com toda a força”.
Ao chegar na CCP, Camila foi super bem atendida pela equipe de Fisioterapia. Naquela época, as voluntárias Shirley, Márcia e Isabel fizeram todo o acompanhamento com ela durante os 22 anos em que ficou sob atendimento na instituição.
Hoje, com 43 anos de vida, ela vive sua vida com independência e muita personalidade. Funcionária pública em Campinas, Camila conta que sempre foi criada de modo a fazer suas tarefas sozinhas e isso refletiu em todas as suas conquistas.
Como toda a criança, ela frequentou a escola, e se desenvolveu ao longo dos anos sempre com o pensamento de que sua limitação não era obstáculo para que ela alcançasse seus sonhos.
“ Minha vida sempre foi a mais independente possível. Meus pais sempre me valorizaram e nunca me trataram com diferença por conta da minha limitação. Frequentei a escola como toda a criança e nunca dependi de ninguém para fazer minhas atividades”, relembra nossa entrevistada.
Camila tirou sua carteira de motorista e comprou seu próprio carro. Ela ama sair e tem uma vida social para lá de agitada. Ela vai em cinema, teatro, parques, bares e ama se encontrar com amigos e familiares. Inclusive, no seu tempo livre, ela ama fazer artesanato.
Além disso, ela dá duro para manter sua casa sempre limpa e organizada. Para atividades que ela não consegue fazer, como pegar muito peso ou subir para ajeitar estantes, Camila conta com uma empregada para auxiliá-la.
Determinada e muito focada, nossa amiga conta que quando coloca um plano em sua mente ela não desiste vai até o fim para cumprir aquele objetivo. Durante o seu tratamento na Casa da Criança, ela aprendeu que sua limitação não a faz menos capaz do que qualquer outra pessoa, pelo contrário.
“Entendo que sozinha não vou chegar a lugar nenhum, porém eu também sei que minha limitação não me impede de chegar aonde eu quero. Quando eu coloco um plano na cabeça eu me planejo para colocar os passos em prática e conseguir aquilo que eu quero”, conta Camila.
Amante de um bom churrasco, nossa amiga sonha com uma sociedade mais inclusiva e que seja estruturada pensando na acessibilidade. Ao sair pelas ruas, Camila conta sobre suas inúmeras dificuldades de acessar alguns pontos e se locomover adequadamente.
Inclusive ela também considera que a sociedade não está preparada, de um modo geral, para lidar com as pessoas com deficiência, porém isso não a incomoda. “A sociedade não está preparada para lidar com o diferente, mas eu não ligo para isso, quando eu mostro para onde eu quero ir e o caminho mais fácil para quem se disponibiliza a me ajudar, tudo fica mais tranquilo”, pontua.
Camila aproveitou o momento para elogiar a Casa da Criança Paralítica. Sempre que precisa passar por aqui ela fica bem tranquila e a vontade, pois sabe que aqui ela tem muita liberdade para se locomover.
“Eu também encontro muitas barreiras de acessibilidade na rua, por isso eu considero a Casa da Criança como referência no trato com a pessoa com deficiência. Não tem escadas para subir, o local é lindo e amplo, quando eu passo por lá, me sinto muito à vontade para me locomover”, afirma.
Nossa querida amiga também não deixou de agradecer pelos amigos que fez aqui enquanto foi tratada. Nas palavras dela, ter amizades consolidadas, com raízes fortes e firmes não tem preço.
Camila também ama músicas, e ouvindo os mais diversas categorias e estilos ela vai vivendo sua vida bem vivida, com muita alegria, saúde e realizações.