A década de 1950 foi marcada pela epidemia de poliomielite, uma doença agressiva que em 1954 já havia afetado mais de 500 mil crianças. Preocupado com a situação que se agravava na cidade de Campinas, um grupo de campineiros liderado pelo médico Dr. Ernani Fonseca, decidiu criar uma clínica especializada no tratamento de vítimas da paralisia infantil.
Foi assim que em 17 de janeiro de 1954, nasceu a Sociedade Campineira de Recuperação da Criança Paralítica. O serviço que impactou a cidade funcionava inicialmente em um pequeno imóvel localizado na Rua Luzitânia nº 369, no centro. Sete anos depois, a vacina que erradicou a poliomielite começo a ser usada em campanhas públicas e a gotinha milagrosa passou a imunizar crianças pelo mundo afora.
Depois da imunização em massa, os centros especializados passaram a atender crianças com deficiência ou limitação física e comprometimento neurológico, seja por causas genéticas ou por acidentes.
A Casa da Criança Paralítica (CCP) – atual nome da instituição – cresceu e hoje atende mais de 370 pacientes, entre crianças, adolescentes e jovens. Eles passam, ao longo do ano, por mais de 47 mil atendimentos com diferentes profissionais e procedimentos, além de receberem cerca de 17 mil refeições. Esse atendimento é gratuito e multidisciplinar, feito por fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais e psicólogos, além de atendimento médico nas áreas de fisiatria, neurologia, odontologia e enfermagem.
“Ao longo dos seus 68 anos de trajetória, a Casa da Criança Paralítica de Campinas representou muito mais do que oferecer tratamento para tantas pessoas. Representa o desejo por uma sociedade mais igual e com oportunidade para todos”, diz Jonas Lobo, presidente da entidade. Os pais e mães também são acolhidos enquanto acompanham o tratamento na sede da instituição, agora localizada no Parque Itália. As famílias que precisam recebem cesta básica, suporte psicológico e orientação jurídica.
Inovações em reabilitação
Quando o assunto é o processo de reabilitação, inovação é a palavra que define o trabalho desenvolvido pela instituição. Em setembro, por exemplo, uma parceria possibilitou a instalação de um estúdio de pilates para otimizar e melhorar a reabilitação. Com exercícios em aparelhos específicos, são favorecidos o condicionamento físico, a flexibilidade e a concentração, já que o método auxilia ainda na interação do corpo com a mente.
Os profissionais também têm buscado aperfeiçoamento em tratamentos clínicos. Entre as novidades está a participação de alguns fisioterapeutas no Curso Bobath, um método que inibe padrões reflexos anormais e facilita os movimentos normais por meio de manuseios, melhorando o tônus muscular e o controle postural do paciente. Um dos serviços – inédito e gratuito – oferecidos é a Oficina Locomover, para recuperação, adaptação e manutenção de cadeiras de rodas e outros meios auxiliares de locomoção, como bengalas, muletas e andadores.
Pandemia com expansão
Apesar dos dois últimos anos terem sido desafiadores em razão da pandemia de covid-19, a CCP mostrou-se eficiente em termos de gestão, organização e transparência. Nenhum funcionário foi demitido e a instituição ainda expandiu a captação de recursos o que possibilitou novas contratações. O quadro de colaboradores é de cerca de 60 pessoas e mais 30 voluntários que se dedicam em prol da causa da pessoa com deficiência.
A entidade é certificada como Organização com Boa Práticas em Transparência e Gestão pela Phomenta, que integra o Comitê Internacional de Monitoramento de ONGs.
Além das doações e do trabalho de captação da Nota Fiscal Paulista e da destinação do Imposto de Renda, há outros projetos de arrecadação que sustentam os tratamentos dos pacientes.
Um deles é o tradicional Bazar do Sonho, que representa entre 20% e 30% do valor administrado. São vendidos produtos doados, como roupas, calçados, eletrodomésticos, móveis e eletroeletrônicos. Eles passam por uma rígida triagem e controle de qualidade apurado, por isso, é um lugar bastante procurado por quem precisa de produtos de segunda mão. Para 2022 a entidade planeja inaugurar o Sebo do Sonho, um projeto que pretende incentivar o hábito de leitura e cultura, oferecendo um catálogo de livros a um preço competitivo.
Fonte: Matéria publicada pelo Metrópole, do Jornal Correio Popular
Reportagem de Cibele Vieira