
A Casa da Criança Paralítica (CCP) realiza, desde maio último, o projeto Reabilitação, Estimulação, Desenvolvimento e Inclusão (REDI), que tem por objetivo oferecer atendimento multidisciplinar e orientação em domicílio às pessoas com deficiência física da região sudoeste de Campinas, de forma descentralizada da instituição.
A meta do projeto é beneficiar diretamente pelo menos 40 pessoas com deficiência física de zero a 29 anos em situação de vulnerabilidade e risco social dessa região, sem atendimento atual na rede de saúde do município, e, de forma indireta, seus familiares. O projeto, que receberá até abril de 2023 um montante de R$ 150 mil da Fundação FEAC, é um modelo inédito de reabilitação na cidade, mas mundialmente reconhecido, tendo como base levar a saúde até o indivíduo, sem sua institucionalização.
Segundo levantamento da CCP, a região sudoeste de Campinas é a que apresenta o maior número de pessoas com deficiência física do município – 1.012 crianças, adolescentes e jovens, no total – e onde se verifica menor acesso a um tratamento para reabilitação e inclusão social.
“Em maio, fizemos a capacitação da equipe do projeto que pretende aumentar em pelo menos 25% o grau de autonomia e de inclusão dos que serão atendidos. Em reunião com os centros de saúde e outros serviços de política pública dessa região, estamos fazendo uma busca ativa por essas pessoas e desenvolvendo um tratamento terapêutico individual, com acompanhamento de aproximadamente quatro meses. Vamos até o domicílio dos selecionados para verificar suas realidades e necessidades, que vão desde a adaptação do local do banho, meios auxiliares de locomoção até a obtenção do Benefício de Prestação Continuada (BPC) junto ao governo federal”, diz Silvia Regina Nunes Bertazzoli, fisioterapeuta coordenadora da CCP.
A equipe é formada pela fisioterapeuta Caroline Bortolote, terapeuta ocupacional Danilo de Faria Moreira, assistente social Marcia Maria de Oliveira e coordenadora técnica Silvia Bertazzoli, além do médico cirurgião Adilson Andrioni da Silva, o único voluntário do REDI – os demais são profissionais contratados pela CCP.
Conforme Silvia, até o momento 29 pessoas serão beneficiadas pelo projeto, sendo que sete delas já estão em atendimento pelo REDI. “Encontramos algumas situações bastante precárias, em que os deficientes passam o dia todo deitados em suas camas, com grandes deformidades em colunas e membros, sem nenhum tipo de atividade que os tire dessas condições porque faltam oportunidades oferecidas pelos serviços públicos. Alguns precisam de cadeira de rodas, que estão sendo entregues pela nossa Oficina Locomover, outros de colchão pneumático para dormir, que estamos adquirindo.
Há pessoas sem documentos básicos, como RG, para terem benefícios garantidos, que estão sendo providenciados pela assistente social do projeto. Enfim, são várias condições verificadas pelos profissionais envolvidos no REDI, que estabelecem o que é possível ser feito para viabilizar um ambiente com infraestrutura adequada, com adaptações e recursos de tecnologia assistiva, proporcionando ao indivíduo maior convívio social e independência nas atividades da vida diária.”
De acordo com a coordenadora da CCP, a acessibilidade promove a autonomia, independência, autossuficiência e liberdade de movimentação de ir e vir, de poder cuidar de si e alcançar objetos desejados, por isso é de fundamental importância para pessoas com deficiências. Para Silvia, há a premente necessidade de ampliar, qualificar e diversificar as estratégias para a atenção à pessoa com deficiência nessa região de Campinas, por meio de uma rede de serviços integrada e articulada, porque, ao se iniciar precocemente as ações de reabilitação e prevenção, há chances de redução da incapacidade do indivíduo com deficiência física.
A equipe do projeto realiza as visitas aos pacientes captados pelo REDI às segundas, quartas e sextas-feiras, das 13 às 17 horas. “Ao longo das visitas já realizadas, percebemos que a pandemia distanciou um pouco as pessoas dos serviços de saúde, prejudicando o adequado tratamento do deficiente físico. Também percebemos que as famílias desses indivíduos, em sua maioria, não têm acesso à correta informação do prognóstico e da melhor opção de tratamento de seus filhos, depois que recebem o diagnóstico das deficiências nas maternidades”, observa o terapeuta ocupacional Danilo Moreira.
Para a assistente social Márcia de Oliveira, muitas vezes falta sensibilidade por parte do profissional que atende essas famílias quando elas descobrem que o filho tem uma deficiência. “Algumas famílias precisam que a linguagem seja acessível para que não falte clareza no diagnóstico, prognóstico e tratamento. E muitas moram distantes dos locais públicos onde são oferecidas as reabilitações e, por falta de transporte, não dão prosseguimento ao que é indicado”, ressalta.
Segundo a fisioterapeuta Caroline Bortolote, os interessados em integrar o projeto como pacientes podem contatar a equipe pelo e-mail redi@ccp.org.br ou pelo telefone/WhatsApp (19) 9 92796300. “Após esse contato, faremos a visita familiar para indicar o melhor tratamento do paciente”, explica.
Fundada em 1954, a Casa da Criança Paralítica oferece atendimento gratuito, multidisciplinar e especializado a crianças, adolescentes e jovens com deficiência física e comprometimento neurológico. Cerca de 18 mil pessoas já passaram pela instituição ao longo desses 68 anos de história. Atualmente, na sede da entidade são atendidos 367 pacientes, a maioria de baixa renda.