Aos 31 dias do mês de maio do ano de 1986, às vésperas da Copa do Mundo do México, o Sr. Airton Alves do Carmo e a Sra. Fátima Aparecida Monteiro de Souza teriam uma grande notícia, Éverton estava a caminho! Chegava com a novidade, a alegria de uma nova vida naquela casa, o primeiro filho e a esperança de um futuro cheio de felicidade.
Everton chegou cheio de saúde! Logo no início da sua vida foi diagnosticado com paralisia cerebral, constatada desde os primeiros meses pela dificuldade motora. Após sete longos anos de tratamentos de reabilitação para ajudar Everton se locomover na Unicamp e no Hospital do Jardim Eulina, a dona Fátima recebeu a indicação da Casa da Criança Paralítica. Em 1994, já com oito anos de idade, o pequeno Everton chegou ao lugar que mudaria sua vida.
Everton e sua família lembram com carinho que foram recebidos na Casa da Criança pelo Dr.Jair Ortiz: “O Dr. Jair foi o médico que fez todas as minhas cirurgias, tenho muito carinho e respeito por ele”, afirma. Após os primeiros atendimentos iniciou o período de cirurgias, foram algumas! E depois das cirurgias, Everton estava pronto para começar as sessões de fisioterapia com as fisioterapeutas Shirley e Fátima, a partir daí... “Eu comecei a andar de verdade, até então eu só engatinhava, aquilo foi o máximo para mim”, relembrou. Começava então, a linda jornada do Everton apoiada com amor e carinho pela Casa da Criança Paralítica. Sempre esforçado, Everton se tornou um jovem determinado.
Everton reconhece que o trabalho de reforço escolar realizado pelo setor pedagógico da Casa da Criança foi determinando para aquilo que seria uma das suas maiores conquistas, o diploma de graduação. Formado em Administração de Empresas, Everton está construindo, com sucesso, sua trajetória profissional na multinacional Flex.
“Agradeço demais a coordenadora Lilian e psicóloga Márcia. Elas me ajudaram demais, tanto no processo de recuperação, como também no meu desenvolvimento como aluno e indivíduo. Não vou lembrar o nome de cada um, mas tenho um carinho enorme por todos da Casa da Criança Paralítica”, disse.
Everton divide suas conquistas e desafios com a instituição até hoje, além de ainda ter apoio da instituição na adaptação. “Já voltei várias vezes na Casa. Eu fiz mais uma cirurgia quando fiquei um pouco mais velho, fui e voltei por diversas oportunidades. E até hoje ainda quando eu preciso eu corro atrás da Lilian”, relembra.
Para Everton, a possibilidade de andar representou uma nova história em sua vida. Entretanto, alguns desafios de acessibilidade ainda cercam o seu cotidiano. A falta de calçadas rebaixadas, ou de uma marcação específica para cadeirantes nos pontos de ônibus são as principais críticas e pontos a melhorar segundo a opinião de nosso personagem.
“Eu ando de muletas, mas de vez em quando eu pego a cadeira motorizada da minha noiva e ando pela cidade, apesar das melhorias em alguns pontos do centro, outros são totalmente despreparados e de difícil acesso. Aconteceu de uma vez um motorista se recusar a baixar o elevador para cadeirantes. Temos muito a melhorar e investir em termos de adaptação”, completou.
Everton é persistente, dedicado e corajoso, encara as dificuldades com alegria e muita força de vontade. Seu maior sonho é dirigir e não depender tanto do transporte público ou de motoristas de aplicativo. Apesar de ainda não ter tirado sua carta de motorista, ele afirma que está preparado por conta dos tratamentos de fisioterapia que fez na Casa da Criança.
Everton luta pela causa da acessibilidade e confessa já ter “brigado” com muitos comerciantes da região com o objetivo de facilitar a vida de quem tem dificuldade para se locomover nas ruas.
“Olha, já discuti com dono de loja de material de construção, lanchonete, até na igreja, onde tem lugar para cadeirantes dentro do espaço físico, mas fora não tem. Já consegui conscientizar muito dono de comércio a implementar a rampa de acesso para facilitar para a gente, se não for dessa maneira, fica complicado porque eu não quero ficar pedindo ajuda para subir em uma calçada para o resto da vida”.
Dono de uma alegria contagiante e irmão mais velho da Edilaine e da Elaine, Everton fala muito sobre sua família e sobre aquilo que o mais motiva a seguir em frente, a vontade de realizar seus objetivos. Seu principal passatempo é jogar aquele game, seja online ou com os amigos quando é possível. Ele também tem a companhia de dois cachorrinhos, o Billy e o Max.
Brincar com suas sobrinhas também faz parte de sua rotina diária. Para nosso amigo, a cor verde é a que mais o representa, pois, como todo bom palmeirense, o verde é a cor da esperança, a cor daqueles que nunca param até realizar aquilo que desejam. Amante da culinária italiana e de uma boa feijoada, Everton se inspira naqueles que não desistem e correm atrás dos seus sonhos até eles se realizarem.
Ele confessa ter aprontado muito quando criança “Ah, eu sempre gostei mais da fisioterapia, eu aprontava muito com a Sandra”, relembra.
De gosto musical eclético, Everton canta e vive sua vida bem vivida, fazendo das dificuldades um motivador a mais para alcançar aquilo que deseja.