A história da Clara começa com a história dos pais da Clara. Patrícia, mãe da pequena Clara, nasceu em Campinas e durante sua juventude foi para Araraquara em busca do seu sonho, fazer faculdade de Nutrição. Com muita dificuldade, iniciou o curso na faculdade mais acessível que encontrou, fazendo um grande investimento financeiro e pessoal, dos quais lhe renderam seu primeiro diploma universitário.
Durante sua formação conheceu o pai da Clara, Márcio Henrique dos Santos, Técnico de Usinagem, e, após um tempo de namoro eles se casaram em Araraquara. Com a crise no setor canavieiro, o pai da Clara enfrentou uma demissão, o que os levou a mudar para Boituva, onde ele encontrou um novo emprego.
Em Boituva, os pais de Clara ficaram sabendo que ela estava a caminho, Patrícia ficou grávida!
A gravidez foi tranquila e Clara nasceu saudável e bem gordinha! O desenvolvimento da Clara estava seguindo a normalidade esperada e após completar seis meses a mãe começou a observar alguma mudança na evolução de seu bebê.
Uma pontinha de preocupação materna fez Patrícia iniciar um processo de observação e investigação, até que uma suspeita médica iniciou a maratona de análises e exames com mais de dez especialidades médicas que mudaram a rotina da família.
O período de investigação foi árduo, muitas viagens, muitos médicos especialistas e muitos exames, associados a dificuldade financeira, que deixaram a família bastante desgastada.
Ao final de todo o processo, foi confirmado que Clara apresentava um atraso no desenvolvimento motor e, então, uma das médicas de confiança da família encaminhou Clara para um tratamento terapêutico de estimulação precoce.
O encaminhamento para o tratamento terapêutico fez a família iniciar uma nova fase em sua vida; a complexa rotina de sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.
No início, a família se desdobrou para dar conta da programação de sessões, todas em clínicas diferentes e com profissionais que não se conversavam e às vezes tinham opiniões diferentes sobre o tratamento, deixando os pais inseguros e aflitos. Como se não bastassem as incertezas, durante o tratamento, os pais de Clara foram informados que o plano de saúde particular oferecia um número limitado de sessões por ano.
Neste meio tempo, Patrícia teve uma queda e quebrou o pé, mas mesmo assim não deixou de levar a Clara na terapia. Foi quando sua mãe, a avó de Clara, lendo o Jornal Correio Popular de Campinas encontrou na seção Baú da RAC, que faz um resgate da memória da cidade de 50 anos atrás, uma matéria sobre a Casa da Criança Paralítica de Campinas – CCP e sentiu com alívio um fio de esperança para o tratamento da Clara.
Felizmente, a Casa com toda a estrutura física e equipe multidisciplinar foi capaz de admitir a Clara no tratamento de estimulação precoce.
A pequena Clara, de 3 aninhos, está em tratamento há 5 meses na CCP e já faz sucesso entre a equipe. Seu amistoso comportamento e dócil temperamento e personalidade contribuem com o tratamento, pois aceita todas as atividades que nossos profissionais passam para ela. Com isso, a mãe Patrícia já notou um grande avanço em sua filha: ela está mais ágil e com a postura mais firme.
A Clara adora comer, mas antes de iniciar o tratamento na Casa tinha muita dificuldade de deglutir e engasgava muito. Com as sessões de fonoaudiologia e aplicação de bandagem esta dificuldade já está sendo superada e agora ela pode comer com tranquilidade e segurança o feijão preto, sua comida preferida!
Ela também adora crianças e uma de suas diversões é passear de motoca no parque com seus pais todos os dias.
Patrícia, apesar da demanda com o tratamento da Clara, conciliou a segunda faculdade, curso à distância de Pedagogia, e começou a dar aulas além de trabalhar na área de nutrição e foi aí que percebeu que pouco se conhece sobre inclusão, sobre adaptação e nivelamento de possibilidades e oportunidades. Seu maior sonho é que a Clara tenha suas necessidades consideradas em todos os âmbitos de sua vida, para que possa viver uma vida normal e conquistar seus sonhos em pé de igualdade com outros indivíduos.
“A sociedade ainda não está acostumada a conviver com limitações, por isso, não as considera para que as coisas sejam transformadas e acessíveis, mas cabe a cada um de nós tomarmos consciência sobre a questão e lutar pela causa, pelos direitos e por uma sociedade mais justa e igualitária”. Patrícia Aparecida Ribaldo