A querida e divertida Valéria Oliveira conta sua história cheia de entusiasmo e amor. Há 28 anos, quando nasceu, os problemas e as dificuldades das pessoas com deficiência eram pouco conhecidos e não se lhes dava o valor devido.
“Minha história com a Casa da Criança começou em 1991, quando eu tinha 3 anos e ainda não apresentava nenhum movimento motor. Ao iniciar o tratamento na instituição Casa da Criança, eu e minha família fomos muito bem acolhidas e logo, como todo apoio e carinho recebido da equipe técnica, as sessões terapêuticas de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia começaram a transformar minha vida.
Nessa época a Casa da Criança ainda não tinha todas as especialidades que tem hoje, mas mesmo assim já se dedicavam a descobrir e desenvolver novas técnicas e projetos, eu fui alfabetizada na Casa, porque naquela época não se falava em inclusão nas escolas, as pessoas com deficiências muitas vezes ficavam reclusas em suas casas, era outra a realidade, a qual a Casa contribuiu muito para mudar. ”
Em poucos meses de tratamento, Valéria começou a responder aos estímulos da terapia e sua personalidade aflorou contagiando a todos. Durante sua infância foi uma menina muito alegre e tranquila, era mais arteira que seus irmãos e quando passou a frequentar a escola convencional fez muitos amigos, que brigavam entre si para ver quem iria empurrar a cadeira de rodas naquele dia.
Valeria conta com muito orgulho que conquistou sua primeira renda ainda na adolescência, graças ao seu talento na cozinha e sua iniciativa de fazer docinhos para vender na escola. Sua segunda renda veio do seu trabalho como babá, já que ela é apaixonada por crianças.
Aos 21 anos, após o término do terceiro ano do ensino médio, Valéria conseguiu dar início ao curso de psicologia na Unip, com a ajuda da Fundação Liliane (Liliane Fonds), uma instituição holandesa que oferece apoio individual a crianças e adolescentes com deficiência e que, há muitos anos, mantém estreita colaboração mútua com a Casa da Criança, tendo beneficiado muitas centenas de seus pacientes. Em paralelo a faculdade, Valéria fazia um curso na empresa Elektro, mas era muito difícil conciliar as duas atividades. Uma de suas amigas, na ocasião, a convidou para morar com a família dela, o que foi aceito por Valéria e tudo ficou mais fácil. Seus amigos, os quais ela considera pais adotivos a levavam no curso e seu pai biológico a levava na faculdade.
A ideia deu super certo, mas no terceiro ano da faculdade o pai biológico da Valéria adoeceu e não pode mais levá-la para as aulas; com a dificuldade de transporte e a preocupação com a doença do pai, Valéria decidiu parar a faculdade por um tempo.
Em pouco tempo seu pai veio a falecer e ela voltou a morar com sua família biológica, continuando o curso na Elektro. Em meio à tristeza, Valéria conseguiu terminar o curso na Elektro e teve uma ótima notícia, eis que conseguiu uma contratação na própria empresa, em 2010. Neste meio tempo, Valéria conheceu seu namorado pela internet e descobriu que tinha encontrado o amor da sua vida. Após conseguir o emprego na Elektro, casou-se e levou seu esposo para morar na casa da sua mãe, enquanto se organizavam para ter a casa própria.
Alguns anos se passaram e muitas coisas boas aconteceram. Valéria voltou a estudar em uma nova faculdade, de Administração de Empresas; além disso, ela e seu esposo conquistaram a casa própria e vivem muito felizes com seus 4 cães e um aquário cheio de peixinhos.
Muitos planos e sonhos ainda estão para ser alcançados. Ela ainda quer terminar a faculdade de psicologia para ajudar as pessoas que, como ela, foi ajudada, mas o maior sonho do casal é ter filhos e poder cuidar deles para o resto de suas vidas.
Valéria é um exemplo de vida! “Gosto de ouvir música, dançar no projeto Dança Sobre Rodas da CCP, amo coisas coloridas, adoro ir ao teatro, ao cinema e em baladas, me delicio com um bom churrasco e com comida japonesa. Meu filme preferido é ‘Um Olhar no Paraíso’, pois me ajudou a superar a morte do meu pai. Tenho o desejo de um dia trabalhar na Casa da Criança Paralítica, lugar onde cresci. Deixo aqui minha história de vida e espero que sirva de exemplo para as outras pessoas”. diz Valéria.
Seu esforço e dedicação, somados ao trabalho de todos os profissionais da CCP, mudaram os caminhos de Valéria, e hoje ela tem uma vida digna e cheia de possibilidades.